segunda-feira, março 2

De tanto querer


Na noite sonho contigo!
Há uma qualquer coisa que te traz para o pé de mim...

E não conseguiu dizer mais nada.
Ela sabia que os sonhos devem permanecer secretos, mas era ao pô-los em palavras - nas palavras certas - que os podia viver. É essa a força das palavras, tornar concreta a ideia abstracta.
E o sonho ganha novos contornos, e mistura-se com a fantasia.

E imagina o seu cheiro, e quase consegue sentir o calor da sua pele.
E é tomada por um arrepio,
E devolve o seu corpo ao sono na esperança de um novo sonho, que possa por em palavras.

quarta-feira, fevereiro 11

Iluminada

Assim se encontra a Sombra:

Iluminada!

sexta-feira, novembro 7

Magia

Às vezes vou ter contigo porque quero um momento mágico!
Às vezes, só às vezes, espero que pares o meu mundo!
... naquele lugar que é só dos dois...
Onde todos ficam de fora...

Às vezes, só às vezes, podes ser meu por um bocadinho...
...e acontece magia....

domingo, abril 13

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O corpo ficava invisível!
Os recortes das janelas mal deixavam entrever o que se passava dentro.
Lá dentro vidas corriam com normalidade. Família construída, beijos de ternura, à noite depois do beijo ao filho que adormece, outros beijos acontecem, entre dois corpos que se encontram.
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Este corpo permanece invisível!
Invisível e sem ver a felicidade que ali ocorre, mas a adivinha-la... tortuosamente a adivinha-la, do lado de fora.
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Invisível?
Nem sempre.
Depois dos beijos, do abraço volupioso, vem o sono.
Com o sono, o sonho.
E no sonho a volúpia é outra.
E o corpo não é mais invisível.
É palpável, inebriante... Ganha textura, paladar, cheiro.
Ganha calor, húmido, acre e doce.
E o corpo sai do recorte da janela para ficar impresso na lembrança durante as horas roubadas ao sono, numa madrugada de desejo.

sábado, março 29

Mab



— Tive um sonho esta noite.
- Oh! eu também.
— Sobre quê?
— Sonho algum verdade tem.
— Quando dormimos, tudo neles cabe
— Oh! Visitou-vos a Rainha Mab.
— Quem é a Rainha Mab?

— É a parteira das fadas,
que o tamanho não chega a ter
de uma preciosa pedra
no dedo indicador de alta pessoa.
Viaja sempre puxada por parelha da pequeninos átomos,
que pousam de través no nariz dos que dormitam.

As longas pernas das aranhas
servem-lhe de raios para as rodas;
é a capota de asa de gafanhotos;
os tirantes, das teias mais subtis;
o colarzinho, de húmidos raios do luar prateado.

O cabo do chicote é um pé de grilo;
o próprio açoite, simples filamento.
De cocheiro lhe serve um mosquitinho de casaco cinzento,
que não chega nem à metade
do pequeno bicho que nos dedos
costuma arredondar-se das criadas preguiçosas.
O carrinho de casca de avelã vazia,
feito foi pelo esquilo ou pelo mestre verme,
que desde tempo imemorial o posto mantém
de fabricante de carruagens para todas as fadas.

Assim posta, noite após noite
ela galopa pelo cérebro dos amantes
que, então, sonham com coisas amorosas;
pelos joelhos dos cortesãos,
que com salamaleques a sonhar passam logo;
pelos dedos dos advogados,
que a sonhar começam com honorários;
pelos belos lábios das jovens,
que com beijos logo sonham,
lábios que Mab, às vezes, irritada,
deixa cheios de pústulas,
por vê-los com o hálito estragado por confeitos.

Por cima do nariz de um palaciano
por vezes ela corre, farejando logo ele,
em sonhos, um processo gordo.
Com o rabinho enrolado
de um pequeno leitão de dízimo,
ela faz coceiras no nariz do vigário adormecido,
que logo sonha com mais um presente.
Na nuca de um soldado ela galopa,
sonhando este com cortes de pescoço,
ciladas, brechas, lâminas de Espanha
e copázios bebidos à saúde, de cinco braças de alto.
De repente, porém, estoura pelo ouvido dele,
que estremece e desperta e, aterrorizado,
reza uma ou duas vezes e, de novo, põe-se a dormir.

É a mesma Rainha Mab
que a crina dos cavalos enredada deixa de noite
e a cabeleira grácil dos elfos muda em sórdida melena
que, destrançada, augura maus eventos.
Essa é a bruxa que, estando as raparigas de costas,
faz pressão no peito delas,
ensinando-as, assim, como mulheres,
a aguentar todo o peso dos maridos.
É ela, ainda...
.
Romeu e Julieta Acto I cena 4