domingo, abril 13

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O corpo ficava invisível!
Os recortes das janelas mal deixavam entrever o que se passava dentro.
Lá dentro vidas corriam com normalidade. Família construída, beijos de ternura, à noite depois do beijo ao filho que adormece, outros beijos acontecem, entre dois corpos que se encontram.
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Este corpo permanece invisível!
Invisível e sem ver a felicidade que ali ocorre, mas a adivinha-la... tortuosamente a adivinha-la, do lado de fora.
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Invisível?
Nem sempre.
Depois dos beijos, do abraço volupioso, vem o sono.
Com o sono, o sonho.
E no sonho a volúpia é outra.
E o corpo não é mais invisível.
É palpável, inebriante... Ganha textura, paladar, cheiro.
Ganha calor, húmido, acre e doce.
E o corpo sai do recorte da janela para ficar impresso na lembrança durante as horas roubadas ao sono, numa madrugada de desejo.